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Aumento do nível do mar ameaça o litoral do Brasil

 

foto de praia com ondas altas e bandeira vermelha em primeiro plano
Foto: EBC/ABr

Pesquisa internacional eleva projeção e acende alerta para Rio, Santos, Recife e Fortaleza. Entenda os riscos e a urgência de adaptação.

Alerta global: um estudo indica que o aumento do nível do mar pode ser 90cm maior que o previsto pela ONU em cenário de altas emissões. Descubra os impactos diretos nas cidades costeiras do Brasil e o que está em jogo para a sua região.

Pesquisa de Cingapura e Holanda aponta para cenário mais drástico que projeções da ONU e destaca a necessidade de planejamento urgente para áreas costeiras do Brasil.

Um estudo recente e inovador, conduzido por uma equipe interdisciplinar da Universidade Tecnológica de Nanyang (NTU Singapore) e da Universidade de Tecnologia Delft (TU Delft), Holanda, projeta um aumento do nível médio global do mar significativamente maior do que as estimativas anteriores. Se as emissões de CO2 continuarem a crescer em um cenário de alta emissão, o nível do mar pode subir entre 0,5 e 1,9 metro até o ano de 2100. Esse limite máximo é 90 centímetros maior do que a projeção mais recente das Nações Unidas, que varia de 0,6 a 1,0 metro.

Incertezas Superadas com Nova Abordagem

As projeções atuais do nível do mar dependem de diversos métodos de modelagem de processos climáticos, que incluem desde o derretimento de geleiras até eventos mais incertos, como o colapso abrupto de plataformas de gelo. Essa variedade de modelos gera projeções inconsistentes, dificultando a estimativa de aumentos extremos confiáveis do nível do mar. Tal ambiguidade tem impedido o Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU de fornecer faixas de “muito provável” para suas projeções – um padrão crucial na gestão de riscos.

Para contornar esse desafio, os pesquisadores da NTU desenvolveram um novo método de projeção aprimorado, a abordagem de “fusão”. Essa técnica combina os pontos fortes dos modelos existentes com a opinião de especialistas, oferecendo uma imagem mais clara e confiável do futuro aumento do nível do mar. As projeções “muito prováveis” (com 90% de probabilidade de ocorrência) foram publicadas na revista científica Nature Communications.

Cenários Preocupantes para o Nível do Mar

De acordo com a nova abordagem de fusão:

  • Cenário de Baixas Emissões: Mesmo em um cenário otimista de baixas emissões, é muito provável que o nível médio global do mar aumente entre 0,3 e 1,0 metro até 2100. A faixa provável do IPCC para este cenário era de 0,3 a 0,6 metro.

  • Cenário de Altas Emissões: Sob um cenário de altas emissões, o modelo de fusão da NTU projeta que o nível médio global do mar provavelmente aumentará entre 0,5 e 1,9 metros até 2100. Para comparação, a projeção provável do IPCC para este cenário era de 0,6 a 1,0 metro.

Os intervalos mais amplos indicados pelo modelo da NTU sugerem que estimativas anteriores podem ter subestimado o potencial de resultados extremos, com níveis de mar possivelmente atingindo até 90 cm a mais do que o limite superior da faixa provável do IPCC em um cenário de altas emissões.

Impactos Potenciais nas Regiões Costeiras do Brasil

As implicações dessas novas projeções para o Brasil são significativas e exigem atenção urgente. Com uma vasta extensão costeira e uma alta concentração populacional em cidades litorâneas, o aumento do nível do mar representa uma ameaça multifacetada:

  • Inundação de Áreas Baixas: Cidades como Rio de Janeiro, Santos, Recife e Fortaleza possuem vastas áreas costeiras e de baixa altitude que seriam diretamente afetadas por inundações mais frequentes e severas. Bairros inteiros, infraestruturas críticas e residências poderiam ser comprometidos.

  • Erosão Costeira Acelerada: O avanço do mar intensificaria a erosão das praias e falésias, ameaçando a estabilidade de construções e a própria existência de ecossistemas costeiros vitais, como mangues e restingas, que atuam como barreiras naturais.

  • Salinização de Aquíferos e Solos: A intrusão da água salgada em aquíferos costeiros comprometeria o abastecimento de água potável em diversas regiões. A salinização dos solos também impactaria a agricultura em áreas próximas ao litoral.

  • Prejuízos à Economia e Turismo: O turismo, setor vital para muitas cidades costeiras brasileiras, seria severamente afetado pela degradação das praias e pela inviabilidade de infraestruturas. Atividades econômicas como a pesca e o transporte marítimo também sofreriam grandes impactos.

  • Deslocamento Populacional e Custos Sociais: A necessidade de realocar populações de áreas de risco traria desafios sociais e econômicos imensos, demandando investimentos em moradias, infraestrutura e serviços públicos.

  • Ameaça a Ecossistemas e Biodiversidade: Ecossistemas costeiros únicos e ricos em biodiversidade, como manguezais, recifes de coral e restingas, seriam severamente impactados, com consequências irreversíveis para a fauna e flora locais.

As novas e mais abrangentes projeções do nível do mar destacam a urgência de o Brasil implementar políticas de adaptação e mitigação robustas. Isso inclui desde o planejamento urbano e a construção de barreiras físicas até a proteção e restauração de ecossistemas costeiros, bem como a redução das emissões de gases de efeito estufa. A antecipação e a ação coordenada serão cruciais para minimizar os impactos e proteger as comunidades e o patrimônio natural das regiões costeiras brasileiras.

Qual a sua opinião sobre as medidas que o Brasil deveria priorizar para lidar com esses desafios?

Referência:

Grandey, B. S., Dauwels, J., Koh, Z. Y., Horton, B. P., & Chew, L. Y. (2024). Fusion of probabilistic projections of sea-level rise. Earth’s Future, 12, e2024EF005295. https://doi.org/10.1029/2024EF005295

 
Nota da Redação: Sobre o mesmo tema sugerimos que leia, também:

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

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